Hunter Cole e os desenhos bioluminescentes


Hunter Cole, não só é uma artista de renome internacional como também é uma experiente geneticista. Cole possui PH.D e mestrado em Genética pela University of Wisconsin-Madison, e Bacharelado em ciência na University of California-Berkeley. Também é uma professora de biologia e arte na University of Chicago, tendo criado o curso de Biology Through Art, onde os estudantes tem a oportunidade de criar suas obras a partir de um laboratório de biologia.
Cole reinterpreta a ciência através da arte com intermédio de abstrações, arte digital e instalações, em geral chamando atenção para o ciclo da vida e da morte. O que pode ser bem demonstrado pela série de desenhos bioluminescentes feitos de 2004/5 intitulado “desenhos vivos”. Utilizando bactérias que crescem no ambiente de acolhimento, Cole faz desenhos que atuam em um processo onde se formam e morrem em um período de duas semanas, para registrar esse procedimento ela utiliza nutrientes disponíveis para que a bactéria apareça como luz brilhante no desenho onde são fotografadas.

Falando em Kac


Eduardo Kac é reconhecido internacionalmente pelos seus trabalhos não só na bioarte como já dito anteriormente, mas, também pelo seu pioneirismo na tele presença. Pioneiro da arte de telecomunicação no período pre-web dos anos 80, Eduardo ganhou notoriedade no inicio dos anos 90 com seus trabalhos que combinavam robótica e organismos vivos.
Seus trabalhos conversam com assuntos diversos, desde experiências online (Uirapuru) até o impacto cultural da biotecnologia (Genesis), da mudança nas condições de memória provenientes da era digital (Time Capsule), até a problemática da noção do exótico (Rara Avis) e enfim da criação de vida e evolução (GFP Bunny e Edunia - imagem deste post). Finalizo este post com o link para o site de Eduardo Kac, bastante completo e com praticamente todas suas obras disponíveis para visualização e também com alguns de seus textos disponibilizados.

Humano e a máquina



Dentro do contexto da bioarte também existe a preocupação não só da simulação artificial dos seres vivos ou suas possíveis mutações artificiais, mas, também a interação possível de seres humanos, animais e maquina como este presente na obra do biólogo e artista Louis Bec. Este que propõem uma linguagem universal que consiga unir humanos, animais e maquinas por intermédio de computadores. Esta pesquisa une semiótica, etnologia e a estética da vida artificial evoluída por computador, desta forma Bec acredita que os organismos vivos possam se comunicar socialmente independente de sua morfologia.
Uma obra que consegue abordar esta relação entre homem e maquina, natural e artificial, é Osmose de Char Davies, feita em 1995. Percebe-se a interface “natural” e orgânica em contrataste com a interface “artificial” cartesiana dos primeiros computadores. Osmose coloca o participador dentro da experiência do mundo natural que está virtualmente inserido dentro do artificial. Esta obra é um simulacro do mundo natural e enuncia o potencial dos ambientes imersivos para a exploração de espaços onde a experiência se aproxima do mundo “real”. Os movimentos espaciais, assim como os sistemas sonoros e visuais, são controlados pela respiração e movimento do participador, aprofundando a experiência subjetiva da interface homem-máquina.
Finalizo este post com o link para o site de Char Davies, onde fica disponível a sua obra Osmose e alguns textos relacionados a ela: 

Evolução, criatividade e instalações


No que se diz respeito à noção do que é vida, um conceito que é importante ser abordado é o da evolução. A evolução tratada na teoria da seleção natural proposta por Charles Darwin, se da por processos “aleatórios” que ocasionariam mutações e posteriormente, seguindo os critérios da seleção natural, sobreviveria o organismo que desenvolvesse uma mutação que melhor se adequasse ao meio.
A biologia contemporânea, segundo o cientista Lynn Margulis, considera que a teoria proposta por Darwin já se encontra obsoleta. Lynn não entende a evolução como uma busca por adaptação ao meio, por considerar que tanto o meio como os organismos estão em constante modificação em busca da criatividade.
Usando algoritmos genéticos, podemos aplicar os princípios evolutivos em sistemas artificias, assim, simulando os mecanismos de seleção natural, como por exemplo, as mutações aleatórias. A implementação de algoritmos genéticos incorpora mecanismos biológicos como crescimento, procriação, mutação e adaptação.
Dois exemplos que posso dar trabalhos de bioarte que conversem com os conceitos de evolução são:
  • Galápagos, de Karl Sims de 1997, uma instalação interativa que possibilita a visualização do mecanismo darwiniano da evolução, a seleção. A instalação possui doze monitores dispostos em semicírculo, onde cada um exibe um organismo virtual. O espectador escolhe uma criatura de acordo com suas preferencias, colocando o sensor em frente ao monitor correspondente. O algoritmo passa por operações randômicas e onze descendentes aparecem nos monitores restantes. As gerações tendem a ficar progressivamente mais complexas.

  • SonoMorphis de Bernd Lintermann de 1999. Os visitantes ao interagirem com a obra induzem a geração de novos corpos biológicos baseados em algoritmos genéticos que são colocados em rotação permanente com sons gerados por processos randômicos. O usuário pode selecionar um entre seis mutações possíveis, que se torna base para outras variações. A interação com a instalação acontece no espaço real e ao mesmo tempo na internet, sendo que a intervenção em um dos espaços exerce influencia no outro.

Genética, Arte e Kac


Assim que a ciência genética possibilitou a criação de vidas orgânicas hibridas, podemos também refletir sobre o uso desta tecnologia na criação de seres artificiais inorgânicos e híbridos. Sabendo que a fronteira que delimita o artificial e o natural é muito tênue, a bioarte assim pode contribuir para construir questionamentos a cerca deste tema.
Como um sonho que vem desde a Antiguidade (Galeno (ca. 130-ac.200)  esboçou seu modelo pneumático do corpo humano segundo a hidráulica de seu tempo. Heron de Alexandria automatizou a arte em seu teatro mecânico. Desde a Antiguidade a imaginação dos poetas e artistas produziu uma longa linha de quimeras), a criação de vida e consciência artificial é uma projeção do homem frente a tecnologia buscando dar vida ao inanimado. Hoje em dia, este é um tema polemico não tão distante, que estabelece relações de interesse e curiosidade entre as áreas da ciência e da arte.
Seguindo a ideia do campo da bioarte chamada de arte transgênica; que explora a manipulação biológica da vida através do uso de engenharia genética com objetivo de criar seres vivos únicos, Eduardo Kac faz suas experimentações que por vezes são polêmicas. Ao mesmo tempo em que seu trabalho evidencia a polêmica com relação à manipulação genética da vida, ao utilizar um coelho na concepção da sua obra que mais repercutiu a GFP Bunny, onde o artista infringe a ética com relação à vida do animal, sendo sua ação questionável.
GFP Bunny, trata de um coelho verde fluorescente criado por meio de modificação genética, onde foi introduzido no DNA do coelho a proteína GFP – Green Fluorescente Protein, que no estado natural é encontrada na medusa Aequorea Victoria. Esta proteína foi isolada e modificada em laboratório no sentido de aumentar sua fluorescência, resultando na EGFP, versão aprimorada da proteína por meio de mutação sintética. 

O que é bioarte



Bioarte é um conceito de construção artística que engloba pesquisa em arte, ciência e tecnologia.  A frase bioarte foi originalmente vinculada a Eduardo Kac em 1997, frase que fazia relação ao seu trabalho intitulado “Time Capsule”.  No entanto este ramo da pesquisa em arte e tecnologia também pode ser vinculado a trabalhos pioneiros do inicio do século 20 nos trabalhos de pioneiros como Joe Davis.

Se apropriando de conhecimentos da ciência e tecnologia, envolvendo questões sobre vida artificial, cibernética e manipulação biológica da vida, através de uma abordagem a cerca dos pressupostos científicos e tecnológicos, a bioarte transgride à visão determinística e mecânica predominante nestas áreas. Tendo em vista que as tecnologias digitais se desenvolveram no sentido de tornarem uma extensão artificial da mente humana, as obras desenvolvidas neste campo da arte expõe a visão dos artistas com relação às contradições da vida artificial e de conceitos que implicam no assunto como orgânico e inorgânico, animado e inanimado.